
Introdução
Sujeitos, diversidades e direitos
Parem de podar as minhas folhas e tirar minha enxada
Basta de afogar as minhas crenças e torar minha raiz.
Cessem de arrancar os meus pulmões e sufocar minha razão
Chega de matar minhas cantigas e calar minha voz.
Não se seca a raiz de quem tem sementes
Espalhadas pela terra pra brotar.
Não se apaga dos avós – rica memória
Veia ancestral: rituais para se lembrar
Não se aparam largas asas
Que o céu é liberdade
E a fé é encontrá-la.
Rogai por nós, meu pai-Xamã
Pra que o espírito ruim da mata
Não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.
Rogai por nós – terra nossa mãe
Pra que essas roupas rotas
E esses homens maus
Se acabem ao toque dos maracás.
(...)
Inspirados pelo poema de Eliane Potiguara, mulher indígena escritora, poeta, ativista, professora, contadora de histórias e empreendedora social, questionamos: quantas heranças europeias ainda perduram no nosso modo de organização social brasileira? Como este processo de dominação e colonização repercutiu e repercute no nosso território, no nosso modo de ser e estar e no nosso modo de pensar? E quando pensamos nas escolas brasileiras, será que nossa organização pedagógica ainda reflete as consequências do processo de colonização ao qual fomos submetidos?

Pensando sobre isso, convidamos o leitor ou a leitora a adentrar neste texto para que possamos conversar sobre como o modelo de organização pedagógica que predomina atualmente nas escolas brasileiras se apresenta como resultado de um processo histórico permeado por lógicas sociais da colonização, que é caracterizado pelo ocultamento e marginalização de sujeitos e de vários saberes, dado pela imposição da cultura europeia sobre nosso território.
Assim, para que possamos evidenciar essas reflexões, dialogaremos sobre como as dinâmicas sociais e culturais, oriundas da colonização, reverberaram no modelo de organização vigente ainda hoje nas escolas brasileiras, pautadas, por exemplo, pela meritocracia.
Para tanto, reforçamos, ao longo do módulo, a partir de dados e diálogos teóricos, o argumento da dificuldade do mérito nas elaborações pedagógicas, visto que esse se mostra insuficiente para resolver problemas educacionais que gestores e educadores buscam enfrentar e solucionar no dia a dia das escolas, como a baixa frequência e a evasão escolar. Apontamos ainda, a partir da análise de algumas experiências em curso, a valorização da diversidade de sujeitos e saberes no contexto escolar como possível caminho para a superação das desigualdades educacionais do País.