UNIDADE 1

Colonialismo e colonialidade: relações com a escola e suas práticas pedagógicas

 

Vejamos uma cena típica escolar:

Bate o sinal. Todos se organizam para entrar na sala. Carteiras enfileiradas. Professor à frente. Quadro negro. Ali, fazem-se as horas e horas que remendadas agrupam os horários destinados para Português, Matemática, Física, Química etc. 50 minutos para cada disciplina. Se o aluno tiver dúvida, que levante a mão. Mas a matéria tem que ser dada. Para os primeiros anos, um/uma ou dois/duas professores(as) responsáveis. Para os mais velhos, um(a) professor(a) para cada matéria. É isso. Nada além disso?

Não. É perceptível muitas rExistências  no ambiente escolar brasileiro que buscam reinventar esse cenário. Mas, problematizando esse cenário exposto, consideramos que a escola é uma instituição social que foi e é construída pelo largo processo do desenvolvimento individual e social de quem a constitui. Por isso, entendemos que o modelo de escola e de cultura escolar ainda é hegemônico, pois as práticas pedagógicas, por muitas vezes, entendem que os sujeitos possuem características, valores, desejos, necessidades e condições de vida iguais. Quão educativo isso seria? Que modelo educativo é esse? Quais suas bases?

Compreendemos então que, se a organização dos tempos, espaços e currículos escolares assumiram uma perspectiva homogeneizadora ao longo do tempo, isso significa que a instituição escolar, em muitas práticas, ocultou e oculta a diversidade de sujeitos que nela estão, o que, por consequência, oculta muitos saberes que esses sujeitos carregam para as escolas.

Qual seria, então, a função da escola? A escola passa, assim, a representar a instituição capaz de fazer o indivíduo mudar de “status”, isto é, de ascender socialmente caso se aproprie de todos os conhecimentos oferecidos por ela, emergindo daí a dimensão da meritocracia no contexto escolar. Ressalta-se ainda que os conhecimentos escolares também foram apregoados historicamente como sendo responsáveis por resolver os problemas da sociedade.

Para ilustrar esse pensamento, convidamos você a refletir sobre a figura abaixo, a qual representa a ideia de que as escolas não veem os estudantes como sujeitos que também têm saberes, aspirações, cultura, mas como seres a serem manipulados, podados e encaixados a partir de um modelo legitimado de produção do conhecimento que predomina nas escolas.

Figura 2a ideia de sucesso. Elaboração: LANTEC-UFSC (2018).

E o que isso quer dizer? Em primeiro lugar, precisamos entender que a organização escolar brasileira é uma herança de nosso passado colonial, que impôs, além de aspectos culturais, concepções de conhecimento de povos dominantes a outros povos e culturas. Estes, por se organizarem socialmente e se expressarem de modos diferenciados, não eram reconhecidos.

A esse fato, podemos relacionar  a chamada cultura escolar, a qual legitima o que é verdadeiro e o que é falso, deslegitimando saberes que não são produzidos em espaços acadêmicos, como a escola e a universidade.

Assim, quando crianças, adolescentes e jovens chegam às escolas, e seus saberes, construídos nas experiências de vida, são ocultados ou desvalorizados; a escola se torna, para esses sujeitos, um mundo à parte, desconectado de suas vivências culturais.  Mas seríamos nós desconectados de nossas próprias vivências? É possível isolar o sujeito como se fosse uma molécula e entendê-lo de forma simples e pontual? Contrapondo-se a essas questões, vemos, então, a necessidade de nos aproximarmos de experiências que mudam essa lógica e trazem o sujeito como centro dos processos educativos desenvolvidos nas escolas. 

Sugestão de material:

Reportagem - Dia do índio: indígenas são vítimas de preconceitos de quem não conhece sua cultura.

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