Esses processos de colonialidade os quais Quijano nos ajuda a visualizar não atingem apenas a dimensão do poder, mas também a do saber e a do ser. Isto é, o padrão de poder, de saber e de ser são impostos pela lógica capitalista, europeia, “nortecentrada”, que legitima lógicas de vida e organização social e invisibiliza outras. Aqui temos uma sugestão de leitura sobre a principal obra do autor Boaventura de Souza Santos, na qual o autor argumenta que devemos aprender que existem outras possibilidades e teorias que advêm do Hemisfério Sul, mais próximas da nossa realidade.
Por isso, acreditamos que é mais do que necessário que passemos a interpretar a realidade a partir do nosso lugar de fala como brasileiros, de nossas culturas e de nossos povos, indo de encontro a essas dinâmicas de colonialidade marcadamente presentes no mundo contemporâneo.
Aprofundando essa ideia, podemos dizer que a colonização baseia-se no processo de dominação de terras pelos portugueses,o que, legalmente, teve fim em 1889. No entanto, os processos perversos do período colonial que acabaram por subalternizar sujeitos ainda continuam presentes, e, aqui, os entenderemos a partir da expressão colonialidade, elaborada, como supracitado, por Quijano para denunciar a continuidade desses processos.

Os processos de colonialidade são tangenciados pelas dimensões da raça, do gênero e da classe e se dão nos seguintes campos: do poder, no que diz respeito à dominação econômica ou até mesmo à uma perspectiva de desenvolvimento; ou do saber, informando as lógicas de produção e legitimação de conhecimentos e, portanto, as visões de mundo e de sociedade. Nesse sentido, o autor Boaventura de Sousa Santos evidencia que:
[...] o fim do colonialismo político, enquanto forma de dominação que envolve a negação da independência política de povos e/ou nações subjugados, não significou o fim das relações sociais extremamente desiguais que ele tinha gerado (tanto relações entre Estados, como relações entre classes e grupos sociais no interior do mesmo Estado).
Poderiam ser muitos os exemplos aqui mobilizados enquanto evidências da permanência, algumas vezes sob novas roupagens, outras nem tanto, das desiguais posições “naturalmente” destinadas a determinadas identidades no País.
Não é à toa que, no Brasil, a população negra no geral ainda tenha os menores índices de escolarização, os menores salários, trabalhos menos privilegiados, bem como menos representantes nos espaços de poder, emergindo daí a definição dessa população enquanto minoria – mesmo que, em números absolutos, negros e negras sejam maioria no País – e o racismo institucional.
O racismo institucional se sedimenta nessas relações desiguais estabelecidas pela raça. Podemos entendê-lo, dessa maneira, como:
[...] o fracasso das instituições e organizações em prover um serviço profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cultura, origem racial ou étnica. Ele se manifesta em normas, práticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho, os quais são resultantes do preconceito racial, uma atitude que combina estereótipos racistas, falta de atenção e ignorância. Em qualquer caso, o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações.
Preconceito Racial e Racismo Institucional no Brasil.
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Maioria de mortes maternas no país ocorre entre mulheres negras jovens.
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Outros casos podem nos ajudar nessa análise, embora sejam inclusive caricaturas. Tomemos como exemplo o caso do “mendigo de Curitiba”, considerando demasiadamente belo - leia-se branco - para encontrar-se em situação de rua.
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