As responsabilidades da escola frente à diversidade das famílias

A relação das famílias com a escola se coloca como algo cada vez mais desafiador, mas pode ser muito importante na superação dos desafios existentes na educação pública.
Acreditamos que uma das dimensões dessa questão tem relação com a dificuldade de lidar com a diversidade de composições familiares que, no interior das escolas, são representadas pelos estudantes.
Como vimos, as famílias são o primeiro espaço educativo na formação dos sujeitos. Por isso, cada estudante presente na escola carrega consigo marcas da convivência familiar e saberes que são adquiridos na relação com as famílias. Quando essas características são muito diferentes das características dos outros sujeitos, essa diferença tende a gerar desigualdades.
Essa perspectiva ganha muita importância no contexto dos estudantes, crianças e adolescentes em situações de pobreza, porque eles carregam vários estigmas no interior das escolas públicas. É urgente a necessidade de descolonizar o olhar sobre esse público, sobre esses corpos que carregam as marcas do processo de colonização.
Uma primeira ideia a se desmistificar é a de que as famílias em situações de pobreza não se preocupam com a educação de seus filhos ou que transmitem a responsabilidade de sua criação para a escola.
Alguns estudos da sociologia da educação e da sociologia das famílias demonstram que existem estratégias para que essas famílias mantenham seus filhos na escola. Estratégias estas que se vinculam à condição social na qual essas famílias vivem, e que são possíveis em relação às vivências das pessoas das camadas populares. Nessa perspectiva, podemos entender que o Programa Bolsa Família é mais que uma estratégia para essas famílias de promoção da educação, é um “braço” social que auxilia os membros das famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza a permanecerem na escola.
Ao dialogarmos com Lahire (2004), temos a ideia de que a relação das famílias com a escolarização dos filhos se conecta intimamente com as disposições econômicas ocupadas pelos grupos familiares.
Mas, segundo o autor, em qualquer classe social verifica-se a preocupação e a esperança das famílias em ver seus membros tendo sucesso na vida escolar. Por isso, é importante pensar em estimular a aproximação dessas famílias com os contextos escolares, sem padronizar modelos de participação familiar nas escolas. De acordo com Lahire (2004):
Não participar da vida escolar dos filhos da forma que a escola julga importante – comparecer às reuniões, responder aos bilhetes, acompanhar os deveres de casa – não significa que a família não se importa com a educação escolar dos/as filhos/as.
Precisamos entender os estudantes como sujeitos socioculturais que carregam características dos espaços em que circulam, inclusive das famílias. Assim, devemos também entender que os comportamentos, atitudes e valores que trazem para a escola são resultados das vivências sociais, culturais e das relações estabelecidas nesse contexto.
Isso porque, muitas vezes, os estudantes menos favorecidos economicamente são julgados e marginalizados nos ambientes educativos por manifestarem essas características que remetem às limitações impostas por esses contextos de vulnerabilidade social.