A influência das dimensões de gênero e raça na vivência das famílias

Observemos a charge da cartunista Laerte:

A imagem representa uma forte crítica às dinâmicas que insistem em padronizar os grupos familiares, representando os processos de colonialidade impostos sobre as famílias. Como podemos ver, um grupo menor encaixa as pessoas em uma forma que seria a família tradicional. Nota-se que esse formato reproduz as famílias nucleares, de estrutura patriarcal, ainda que esse modelo familiar conviva com outros vários modelos presentes na sociedade, que são deslegitimados.
Ao pensarmos nos padrões que formam a concepção de família e ao associarmos estes aos processos de colonialidade, que são relacionados principalmente com dimensões de raça, gênero e classe social, ficam claras as diferenças nas experiências de vida das famílias brasileiras. Isto é, as famílias não “tradicionais”, tanto em sua composição como em suas trajetórias, ainda são subalternizadas, persistindo sobre elas um olhar colonial que reproduz as desigualdades econômicas, culturais e sociais. As determinações sobre esses processos são várias nos grupos familiares.
Quando olhamos para as famílias negras, quilombolas, indígenas e LGBTIQA+ que se encontram em situações de pobreza, são nítidas as desigualdades sociais, culturais e econômicas que recaem sobre elas, o que nos faz perceber que seus direitos enquanto família não estão garantidos. É evidente também como a cultura dessas famílias ainda é ocultada e subalternizada diante dos padrões de colonialidade.
Ao dialogarmos sobre as famílias negras e em situações de pobreza no Brasil, por exemplo, percebemos dinâmicas perversas que se vinculam à imposição de padrões de poder e das subalternidades que residem nessas famílias.
É a partir dessas dinâmicas que muitas mães perdem seus filhos, pois, no Brasil, vivemos o que chamamos de genocídio da juventude negra. De acordo com o Atlas da Violência de 2018, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as principais vítimas desse cenário são os jovens entre 15 e 29 anos, moradores de periferias e negros.
Veja o mapa da violência abaixo:

Ao analisarmos o mapa da violência, podemos relacionar os dados apresentados à precarização das políticas públicas oferecidas para essas famílias subalternizadas: a baixa escolarização que estas possuem; os postos de trabalho menos privilegiados que ocupam; as rotinas de trabalho exaustivas; o envolvimento com o tráfico de drogas, dentre outras condições.