Observemos a imagem abaixo:

Figura 2: diversidade. Elaboração: LANTEC-UFSC (2018).

A ilustração nos sugere que a diversidade e a diferença são duas dimensões importantes para entendermos o conceito atual de família, sendo muito importante pensarmos nesse conceito sempre no plural, ou seja, “FAMÍLIAS”, no intuito de abarcar todas as possibilidades de ser família e seus múltiplos arranjos.

Diferentemente do que muitos ainda propagam ou do que muitas religiões pregam, as famílias hoje possuem características e organizações diversas que não representam a estrutura da família patriarcal, historicamente disseminada como modelo de organização familiar, ou seja,  uma família em que todos residam na mesma casa e na qual haja um núcleo familiar composto por pai, mãe e filhos biológicos, todos com funções bem definidas no núcleo.

O conceito atual de família é amplo e diverso e não está ligado apenas a laços de parentesco, mas sim às relações que as pessoas desenvolvem, independente de laços de sangue. Não estamos ligados a uma família apenas porque biologicamente nos conectamos com nossa mãe ou com nosso pai.

A dimensão do que é família surge na relação de afeto entre as pessoas, do sentimento de pertencer a determinado grupo, ao estabelecer com o outro o “espírito de família”, como sugere Singly (2007). O autor reforça que o sentimento de pertencimento à família é um elemento muito importante para caracterizar as famílias atualmente.

Sugestão de materiais

Livro: Recomeçar: família, filhos e desafios, de Nayara Hakime Dutra Oliveira.  Acessar o conteúdo.

Monografia: A evolução nas definições de família, suas novas configurações e o preconceito, de Júlio Henrique de Macêdo Alves. Acessar o conteúdo.

Existem muitas possibilidades de composição familiar que precisamos reconhecer como legítimas, podendo ser casais heterossexuais ou homossexuais, com ou sem filhas e filhos biológicos ou adotivos etc. Existem, também, famílias monoparentais com filhos, e há, ainda, estudos que consideram a pessoa que vive sozinha como família.

Contudo, é importante ressaltar que essas organizações familiares que fogem do modelo tradicional foram historicamente ocultadas, marginalizadas, ou seja, não reconhecidas como família. No entanto, devido a diversas conquistas pautadas por movimentos sociais – como o movimento de mulheres, o movimento LGBTIQA+, o movimento feminista, o movimento negro, dentre outros – hoje os caminhos para a legitimação dessas outras formas de organização familiar estão abertos, assim como para a construção de políticas públicas que abranjam essa diversidade e multiplicidade dos arranjos familiares existentes. 

Não há apenas um único motivo que explique a diversidade de configurações das famílias contemporâneas, entretanto, sabemos que esses motivos se relacionam às mudanças sociais e culturais que o mundo vivenciou. Essas mudanças se deram principalmente ao longo do século XX e se acirram neste século XXI. A pesquisadora Kassiane dos Santos Oliveira, em sua pesquisa de mestrado, na qual aborda o tema das relações das famílias com a escola, afirma que:

[...] a diversidade de composições e organizações das famílias se deve, entre outros motivos, às mudanças sociais, com destaque para as relações de gênero, intensificação da presença de mulheres no mercado de trabalho, autonomia para o controle da natalidade, envelhecimento da população, entre outros.


OLIVEIRA, 2014, p. 73

É importante destacar também que o Estado teve e tem função significativa na garantia da diversidade das famílias, a partir da criação de medidas governamentais, como a  legalização do divórcio e outras leis que beneficiaram as mulheres negras/brancas/indígenas. Atualmente, em alguns países, o Estado tem garantido o direito da população LGBTIQA+ de se casar e a adotar filhos, avançando rumo à legitimação de novos grupos familiares.

Entretanto, é importante dizer que em outros países não há garantias legais, e casais homoafetivos têm enfrentado grandes dificuldades para  poder formar uma família.

Fonte: Rede Ovelha Negra (2018).