Corrêa (1981), em estudo de cunho histórico, demonstrou inúmeros registros de famílias que, ainda no período colonial, tinham organizações diferenciadas desse modelo patriarcal imposto. Essas famílias eram inclusive a maioria, mas não eram reconhecidas pelo Estado e pela Igreja Católica.


A chamada “família patriarcal brasileira” era o modo cotidiano de viver a organização familiar no Brasil colonial, compartilhado pela maioria da população, ou é o modelo ideal dominante, vencedor sobre várias formas alternativas que se propuseram concretamente no decorrer de nossa história?


CORRÊA, 1981, p. 7

Podemos dizer que a provocação acima, mesmo relacionada ao período de colonização brasileira, no qual muitas formas de organização familiar foram silenciadas pela imposição portuguesa, ainda se faz atual. Isso porque o padrão de poder/saber/ser imposto pela lógica capitalista, europeia, “nortecentrada”, legitima lógicas de vida e organização social e invisibiliza outras. Assim sendo, as famílias que se afastam desse modelo foram e ainda são consideradas hierarquicamente inferiores.

Isso nos traz importantes desafios no sentido de que o reconhecimento da diversidade de famílias ainda encontra grandes barreiras culturais. Ainda se verifica um padrão europeu de família que se remete à família patriarcal e nuclear. À medida que os grupos familiares vão se distanciando desse padrão, os processos de colonialidade vão se tornando mais evidentes.