Famílias, pobreza, adolescências e juventudes

Convidamos os(as) leitores(as) a se debruçar, nesta unidade, sobre a relação com as famílias, focalizando as adolescências e juventudes que as compõem. Para tanto, considerando as diferenças etárias entre o que é ser adolescente e o que é ser jovem, aqui vamos costurar a adolescência e juventude numa perspectiva social, cultural e relacional, tendo em vista os estudos da sociologia da juventude. Mas é importante considerarmos que mesmo em tempos em que as diferenças podem ter um caráter de exclusão, as adolescências e juventudes são compostas por idades distintas, que carregam características específicas.
Mas o que é ser jovem atualmente? Há quantas formas possíveis de viver a adolescência e juventude? O que caracteriza ser jovem?
Vejamos algumas falas que nos evidenciam essa prerrogativa:
Eu mesmo ouço funk dentro da sala, reconheceu uma adolescente de 16 anos, do primeiro ano do Ensino Médio. Os professores não conseguem colocar ordem. Chega uma hora que elas desistem fácil.
Infelizmente, essa juventude está bem perdida mesmo. A culpa não é somente da escola, não, os pais têm responsabilidades nisso também. Os baderneiros não querem saber de estudar e vão à escola somente para atrapalhar os que se interessam. Sempre foi assim e sempre será. Educação vem de casa. Não adianta querer que a escola faça milagres.
Através dessas duas falas, podemos perceber que essas visões também são alimentadas pela mídia, que diretamente influenciam na maneira como enxergamos os(as) adolescentes e jovens: como seres em transição, da infância para a vida adulta, um “vir a ser”. Para além disso, a noção de juventude corriqueiramente tem sido vinculada a uma fase de crise ligada a conflitos e à baixa autoestima. Essas concepções, em diversos âmbitos educativos, inclusive nas escolas, muitas vezes, resumem-se em “prepará-los” para a vida adulta, para o futuro, não reconhecendo as vivências que são próprias dessa fase da vida. Assim, essas ações educativas acabam se distanciando dos projetos de vida que esses jovens constroem para si. Isso, consequentemente, leva ao distanciamento desses sujeitos da escola ou de outros projetos educativos que ele esteja inserido.
Para nos aprofundarmos no assunto, assista ao clipe da música Não é Sério, da banda Charlie Brown Júnior, e reflita sobre quais imagens da juventude ele nos mostra. Você consegue identificar qual concepção do que é ser jovem é mostrada no vídeo?
Fonte: Charlie Brown Jr. (2009).
Importa-nos destacar aqui que adolescentes e jovens estão intrinsecamente conectados ao tempo contemporâneo, às questões sociais que organizam a vida em sociedade, à tecnologia e aos sistemas de informação. Mas é importante entendermos que a maneira como adolescentes e jovens lidam com as questões sociais de sua época se dá de formas distintas, relacionadas a fatores como condição socioeconômica, pertencimento étnico, filiação religiosa, dentre outros.
Nessa multiplicidade de relações que caracterizam a condição juvenil é necessário atentarmos nosso olhar para as juventudes que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza, como os beneficiários do PBF, pois é nesse contexto e no de desigualdades socioeconômicas que nossos adolescentes e jovens, juntamente a suas famílias, têm vivenciado formas frágeis e insuficientes de inclusão. Esses sujeitos estão vivenciando uma nova desigualdade “que implica no esgotamento das possibilidades de mobilidade social para a maioria da população, principalmente para o segmento juvenil” (DAYRELL; LEÃO; REIS, 2007, p. 56).