Podemos compreender que, nos parâmetros da sociedade atual, a constituição da imagem da infância separa as crianças do mundo dos adultos. Isso significa que elas são colocadas em uma posição de fragilidade excessiva, pois passam a projetar os desejos, objetivos, planejamentos e sonhos dos adultos. A infância se torna a ambiência na qual “se organiza a vida familiar, se projetam as aspirações parentais, se sustentam políticas públicas direcionadas para a família” (SARMENTO, 2005, p. 365).
Nessa concepção, a criança é vista como um sujeito sem capacidade de decisão, de expressar opinião, de propor soluções, sendo ela compreendida em oposição ao mundo adulto. Por um lado, é importante enxergar a criança dentro dessa separação entre o mundo do adulto e o mundo da criança, no sentido de entender que elas não têm os mesmos direitos dos adultos, sendo submetidas a eles nessa relação entre gerações. Mas, por outro lado, a criança também é um sujeito social e de direito, pois exerce agência nas relações sociais.
Devemos entender que não podemos tratar as crianças e a infância, em suas múltiplas expressões, como sujeitos subalternizados em uma fase frágil da vida, mas sim como sujeitos atuantes no mundo, dentro de sua cultura. Isso vai ao encontro dos estudos atuais sobre infância, que já não trazem as crianças como o futuro da sociedade, mas como sujeitos imersos em processos sociais. A partir do exposto, como podemos pensar a relação da escola, seus profissionais e a infância? O primeiro elemento é considerar que cada criança presente na escola traz consigo marcas de sua socialização nas famílias, de suas condições sociais, de sua raça e de sua cultura. Isso nos leva a pensar que o planejamento das práticas escolares deve considerar essa diversidade, assumindo-a como um valor próprio desse sujeito. É necessário que essa diversidade não seja transformada em preconceito, pois isso pode fazer perpetuar desigualdades educacionais dadas desde a infância.
Podemos concluir nessa unidade que as crianças também precisam ser consideradas como sujeitos de direitos, conhecimentos e saberes. Dentro da linguagem em que carregam, com suas maneiras próprias de enxergar, interpretar, se expressar e buscar as transformações relacionadas à cultura infantil. Por isso, nessa compreensão atual de infância, não se deve preparar as crianças para o mundo adulto, mas sim trazê-las para os processos educativos, desde os planejamentos, escutando o que elas têm a dizer e dando espaço para a participação delas nos processos educativos escolares.