Podemos compreender que, no mundo contemporâneo, os adolescentes e jovens estão inseridos em vários espaços educativos, por onde circulam muitas informações. Alguns desses espaços são o ambiente familiar, rodas de amigos, redes sociais etc. Ambientes esses onde os(as) adolescentes e jovens podem expressar sua opinião, fazer intervenções, falar sobre seus ideais e projetos de vida, mesmo que suas ideias entrem em conflito com as dos demais. Assim, a escola precisa acompanhar esses movimentos, se conectar a eles, para que ela não se configure como um mundo à parte aos olhos dos estudantes.
Concordamos que o investimento em atividades esportivas também pode ser potente para a aproximação do adolescente e do jovem com a escola. Não necessariamente na perspectiva de formação de atletas, o que se dá em instâncias específicas, mas sim o esporte desenvolvido com caráter educativo. O esporte de maneira direta é capaz de atuar em questões como a disciplina, a alteridade e a motivação.

Convidamos os(as) leitores(as) a refletir sobre o depoimento de dois estudantes, adolescentes, inseridos em um projeto de capoeira na escola. Os depoimentos fazem parte da dissertação de mestrado da pesquisadora Bárbara Bruna Moreira Ramalho e revelam uma íntima relação entre o desejo de permanecer na escola e a participação em atividades esportivas e artístico-culturais. Para a pesquisadora, “o que se compreende é que o protagonismo desses jovens nessas atividades pode desdobrar-se em uma atribuição de sentido a elas e, portanto, num gosto em realizá-las, possibilitando a eles uma reelaboração de suas posturas” (RAMALHO, 2014, p. 186).
Aí, entrei, comecei a participar das atividades, comecei igual conheci o karatê. O karatê falava que a gente tinha que ter respeito, disciplina e organização, que a gente tinha que respeitar as pessoas. Aí, eu fui me envolvendo com a arte, com a Integrada.
Aí, no karatê, cê vai adquirindo disciplina, mais respeito, muito mais respeito, organização. É tudo isso. É tudo. No karatê também você aprende muita disciplina. É respeito também, inclusive na luta. A... uma luta não é você chegar apenas batendo de qualquer jeito, é... a luta é como uma dança, os movimentos são todos de acordo com aquilo que o professor impõe. Então, aí tem aquele respeito pra você não errar os movimentos, aquela organização pra você não ficar totalmente desleixado num canto e tem outras coisas também, benefícios, benefícios.
Como percebemos nas falas, essas atividades dialogam intimamente com a realidade dos sujeitos e podem ser potentes na superação das desigualdades educacionais. Ao pensarmos a capoeira para além do esporte, como uma atividade artístico cultural, podemos dialogar com Viana e Lovisolo (2011), para quem esse tipo de atividade escolar pode ser capaz de aliar aspectos como a autoestima, bem como atuar na construção da disciplina e, até mesmo, na proteção contra a violência, a qual muitos dos estudantes e suas famílias são submetidos.