UNIDADE 1

Famílias, vivências da pobreza e relações com a escolarização

 

As vivências da pobreza, às quais muitos estudantes brasileiros estão submetidos, influenciam diretamente na escolarização dos sujeitos e podem ser compreendidas a partir de escalas diferenciadas. Isto é, tais vivências podem se expressar na falta de políticas públicas de educação para a população mais pobre, ou, até mesmo, em relações que se reverberam na sala de aula, tendo como principal motivo a classe social a qual o estudante pertence e o preconceito em relação a esse elemento da vida do sujeito.

Ao nos atentarmos, por exemplo, ao fato de que o acesso à Educação Infantil nas classes populares ainda não é um direito garantido, percebemos que o problema da desigualdade educacional brasileira já se inicia na primeira etapa da Educação Básica, na primeira infância, o que, aliado a outras desigualdades, amplia a necessidade de discutirmos a importância de programas como o Bolsa Família na garantia de direitos das famílias que vivem em territórios de pobreza.

Vejamos, como exemplificação dessa barreira de acesso à Educação Infantil, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), que é realizada e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ela nos diz que, dentre as crianças de 0 a 3 anos que pertencem aos 20% dos sujeitos com a renda domiciliar per capita mais baixa do País, 33,9% estão fora da escola pois não existem vagas ou creches perto delas. Já no grupo de 20% dos sujeitos com a renda per capita mais alta, esse problema só atinge 6,9% das crianças.

Figura 1: acesso a vagas e creches.

Desse modo, convidamos os(as) leitores(as) a conhecer a seguinte reportagem, que nos remete aos dados do parágrafo anterior: acessar reportagem.

Por conseguinte, convidamos o(a) leitor(a) a refletir sobre as seguintes questões: quais as reflexões possíveis que os dados apresentados nos proporcionam? O que os resultados nos dizem sobre as diferentes condições educacionais e sociais das famílias brasileiras?

O primeiro ponto que devemos dar atenção é que as desigualdades educacionais estão intimamente ligadas à condição social dos sujeitos. Como nos revela os dados apresentados, a inserção na Educação Infantil das crianças que vivem em territórios de pobreza é bem menor em relação àquelas pertencentes a famílias de renda mais alta. Esse fato, além de contribuir para manter o ciclo de desigualdade social e educacional, contribui também para gerar deficiências nos processos de escolarização dos estudantes das camadas populares ao longo das outras etapas da Educação Básica. É importante pensarmos em como essa distinção social e educacional vai manter os ciclos de pobreza.

Exemplo de distinção social: 

Uma mãe que cria seus filhos sozinha, quando não consegue matriculá-lo em uma instituição de Educação Infantil, certamente vai ter dificuldades para ter um trabalho formal; sendo também comum que muitas famílias deixem as crianças sozinhas em determinados períodos do dia para conseguirem trabalhar e garantir sua sobrevivência.

Outra condição estarrecedora é que muitas dessas crianças se envolvem no trabalho infantil, devido à falta de vagas em creches ou na pré-escola. 

a maioria das crianças, adolescentes e jovens pobres é obrigada a alguma forma de trabalho para sobreviver, para ajudar a família. No caso das meninas, muitas vezes a jornada de trabalho é dupla, ou seja, tanto saem para trabalhar como realizam os afazeres em casa.

Arroyo, 2016, p. 38