Famílias, pobreza e infâncias

Nessa segunda unidade, convidamos os(as) leitores(as) a conversar mais especificamente sobre o tempo de vivências infantis, almejando desvelar quem são as crianças por trás dos estudantes que hoje frequentam as escolas públicas brasileiras, buscando, assim, perceber esses sujeitos para além dos papéis que são impostos a eles, como alunas e alunos. Em um segundo momento, conversaremos sobre a multiplicidade de infâncias presentes no mundo e na própria escola, “porque não existe uma única, e sim, em mesmos espaços, têm-se diferentes infâncias, resultado de realidades que estão em confronto” (DEMARTINI, 2001, p. 4).
Como anunciado, Demartini (2001) afirma que as infâncias hoje no mundo são diversas, o que se relaciona com a diversidade de realidades presentes em cada território. Isso significa que, no espaço da sala de aula, por exemplo, diversos modos de viver a infância se tornam presentes. É necessário, assim, como educadores(as) e gestores(as) escolares, considerar tais realidades no fazer pedagógico. Nesse sentido, há processos que diferenciam as infâncias em uma mesma sociedade e em um mesmo tempo histórico.
Mergulhando nessa compreensão, convidamos os(as) leitores(as) a assistir ao vídeo A Invenção da Infância, de Liliana Sulzback.
A partir do vídeo, podemos refletir sobre as seguintes questões: quais concepções de infância são evidenciadas no vídeo? Ser criança significa ter infância? Você acha que sua escola considera a diversidade de infâncias existentes em suas práticas pedagógicas?
Guiados por essas questões e com base no curta-metragem apresentado, convidamos o(a) leitor(a) a refletir sobre a importância de compreendermos que ser criança e viver uma infância são dimensões que não necessariamente andam juntas, pois em muitas realidades há uma distância entre elas. Isto é, nem sempre a idade cronológica é garantia de vivência de uma infância digna, com experiências próprias dessa fase da vida. Podemos entender com isso que existem infâncias vividas por certas crianças, porém para outras o direito à infância é negado. Um cenário que nos exemplifica isso é o de que há muitas crianças com acesso à escola, enquanto outras vivem em situação de rua ou imersas no trabalho infantil.
Podemos compreender que as diferenças próprias da infância não estão apenas relacionadas aos sujeitos que não frequentam a escola. Mesmo entre as crianças que estão matriculadas e têm o acesso à Educação Básica garantido, existe muita diferença no modo como se vive a infância, assim como evidenciado no vídeo.
Por um lado, crianças são inseridas em escolas precárias onde a experiência escolar por si só não garante o direito a uma educação de qualidade. Por outro, existem crianças para quem o direito à educação ultrapassa a educação escolar, e a elas são oferecidas atividades como cursos de língua estrangeira, esportes, treinadores, professores particulares, cuidadores, entre outras experiências exitosas na educação.