Mergulhando nessa ideia, Dayrell (2003; 2006) entende que as experiências dos adolescentes e jovens brasileiros são bastante amplas, o que implica em diversas maneiras de viver a juventude, de se manifestar, de se identificar, de ser jovem. O autor enfatiza essa ideia ao afirmar que a juventude, além de ser caracterizada pela diversidade, é uma categoria dinâmica; não há uma só juventude, mas muitas juventudes.
Com isso, a juventude passa a ser entendida como uma categoria que vai sendo construída socialmente no contexto em que se realiza. É a partir desse reconhecimento do jovem como uma construção social que se pretende ampliar a compreensão dos processos educativos vivenciados pela juventude de periferia nos trânsitos e no contato com seus territórios, no campo, na cidade, nos quilombos, nas aldeias e nas florestas. Cada adolescência e juventude carrega marcas de sua vivência nesses lugares.

Dessa forma, convidamos você a acessar os vídeos abaixo e refletir sobre as diferentes formas de construção da identidade juvenil na cidade e no campo. Através desses dois vídeos, podemos compreender como cada território e como as condições sociais que nossos adolescentes e jovens estão inseridos influenciam em sua identidade, na maneira como se relacionam com sua cultura e com o mundo. Nesse sentido, “o mundo da cultura aparece como um espaço privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais no qual os jovens buscam demarcar uma identidade juvenil” (DAYRELL, 2001, p. 1).
Você pode acessar também o vídeo "Diz aí juventude rural - identidade" do Canal Futura.
Para além do campo da cultura, as identidades juvenis podem estar sendo construídas ou desconstruídas também em contato com o território. Essas dimensões influem diretamente na construção da identidade juvenil. No diálogo, os autores afirmam que além de ser socialmente construída, a condição juvenil tem também uma configuração espacial. Isso nos permite pensar em como os jovens significam os espaços nos quais circulam e, ao mesmo tempo, constroem suas identidades por meio de estilos de vida, de produção cultural, de padrões de consumo, de relações de poder, dos espaços de lazer ou por meio das sociabilidades (CARRANO; DAYRELL, 2015).
Trazendo essa perspectiva para o contexto de adolescentes e jovens que vivem nos territórios de pobreza, é importante reafirmarmos que no contexto brasileiro ficar vivo durante a adolescência e juventude já se coloca como um grande desafio, especialmente para negras e negros, o que sinaliza para a dimensão do racismo institucional. Essas vivências das adolescências e juventudes inseridas em territórios marcados pela pobreza e vulnerabilidade trazem grandes desafios para a escola, na medida em que são justamente os adolescentes e jovens de periferia os que mais a abandonam. Isso se dá devido à necessidade do trabalho, mas também à falta de sentido que a escola passa a ter para esses sujeitos, quando ela não se conecta com suas vivências sociais, com seu universo cultural. Por isso, se faz cada vez mais importante pensarmos em estratégias pedagógicas específicas para esse público, que entendam as questões que são próprias desse tempo de vivência.
Podemos pensar em diversas abordagens e estratégias para o desenvolvimento de projetos pedagógicos juntamente às adolescências e às juventudes e suas famílias, no sentido de enfrentar a alta evasão escolar desses públicos. A partir de estudos com estudantes das camadas populares, percebemos que as dimensões de participação, do esporte e das artes tomam centralidade na medida em que dialogam diretamente com os sujeitos aqui expostos. Esses são possíveis caminhos a seguir na escola.