UNIDADE 1

Mapeando territórios educativos

 

Quando buscamos uma educação pública conectada com as vivências de nossas crianças, adolescentes e jovens, é imprescindível atentar para os processos educativos que se dão para além dos muros da escola. Devemos entender que é importante reconhecer a diversidade de grupos familiares e trazê-los para a dinâmica escolar. Mas é preciso ir além e perceber como a comunidade e o entorno da escola – o território  podem ser partes integrantes dos processos educativos escolares para potencializá-los e ressignificá-los.

Aqui, não iremos pensar o território apenas como espaço físico, chão ou propriedade; mas, sobretudo, como relação social. E, assim, ele “é natureza e sociedade simultaneamente, é economia, política e cultura, ente e matéria, é local e global é singular e universal concomitantemente, terra, formas espaciais e relações de poder” (SAQUET, 2000, p. 144).

Nesse sentido, o território também assume um caráter popular, como entendido na discussão trazida por Santos (2000). O autor coloca que o território se estabelece a partir da utilização a ele atribuída e das relações sociais que o compõem, conferindo-lhe um caráter dinâmico. Dessa prerrogativa do que é território, emerge um sentido não estático que se relaciona ao espaço vivido, onde se produzem relações. Nas palavras do autor:

O povo como sujeito é também o povo como objeto, sobretudo ao considerarmos o povo e o território como realidades indissoluvelmente relacionadas. Daí a necessidade de revalorizar o dado local e revalorizar o cotidiano como categoria filosófica e sociológica, mas como uma categoria geográfica e territorial. 


SANTOS, 2000, p. 121

Observe as imagens abaixo, que demonstram um grupo de estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental em atividades educativas, circulando por um bairro de periferia no qual a escola onde estudam está situada. 

Figura 1: Escola e os territórios educativos. Fonte: Diversos (2014-2018).

O que essas imagens nos dizem? Quais saberes podemos construir num momento de circulação por esses territórios? É possível aprender em contato com esses territórios? Como a comunidade do entorno escolar pode contribuir para os processos educativos desenvolvidos pela escola? Qual a importância do território para a melhoria da educação oferecida nas escolas públicas brasileiras?

Essas questões assumem muita importância quando almejamos uma educação que converse com as realidades e os contextos  dos sujeitos, pois, no território, há muitos saberes dos quais a escola precisa se aproximar. Revela-se, assim, essencial que o grupo de gestores e educadores abracem essa perspectiva em suas práticas, buscando construir territórios educativos.

Portanto, é mais do que necessário reconhecer a rua, o bairro, a cidade e o campo como grandes espaços educadores capazes de promover um aprendizado mais amplo e contextualizado, além de agregar novas formas e dinâmicas de construção do conhecimento no âmbito escolar. Como nos ensina Moll (2008),

a aprendizagem acontece ao longo de toda a vida em diferentes contextos: na família, na escola, na cidade; em espaços formais e informais [...]. No entanto, é preciso entender, também, que tempo e espaços escolares devem ser preenchidos com novas oportunidades para a aprendizagem e a reapropriação de espaços de sociabilidade e comunicação com a comunidade local, regional e global.


MOLL, 2008, p. 35

Concordando com a concepção da autora acima destacada, nosso diálogo caminhará no sentido de pensar a escola para além de seu espaço físico, constituindo a concepção de território educativo. Esse termo tem ganhado cada vez mais força na contemporaneidade, devido ao fortalecimento recente de modelos educacionais como a Educação Integral, que teve uma grande ampliação no Brasil nos últimos dez anos.

Para além disso, com a complexificação das funções da escola, neste século XXI,  fortalece-se o entendimento de que a escola, sozinha, pouco muda; é preciso fortalecer as parcerias locais, ou seja, pensar em instituições, sujeitos e saberes outros que, em conexão com a escola, possam ser mais potentes na superação das desigualdades educacionais. Por isso, concordamos com Guará (2009), quando reflete que:

[...] ao ampliar o olhar sobre as possibilidades de educação para além da escola, a escola não diminui nem restringe a importância e papel dela; apenas aponta que as demandas de educação e proteção poderiam ser mais bem atendidas com a articulação entre o saber escolar e os saberes que se descobrem por meio de outras formas de educação. 

GUARÁ, 2009, p. 66

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Ao buscar a construção de territórios educativos, é importante que a escola pense, de modo coletivo, estratégias de aproximação com o seu entorno, premissa válida tanto para os contextos urbanos quanto os rurais.

O intuito dessa aproximação é mapear espaços, instituições, sujeitos e saberes que circulam por cada um desses territórios e que podem estar em constante encontro com os conhecimentos e saberes produzidos nas escolas. Ao pensar nos estudantes beneficiários(as) do Programa Bolsa Família, por exemplo, é interessante que saibamos se eles participam de outros projetos sociais, culturais, esportivos, no bairro em que moram, a fim de que a escola possa pensar parcerias, oferecer atividades e desenvolver projetos pedagógicos em conjunto com esses espaços educativos.