UNIDADE 1

Da hierarquia de saberes à ecologia de saberes

 

Figura 1: saberes.

Nesta primeira unidade, convidamos você, leitor e leitora, a refletir sobre o papel da escola como instituição que agrega saberes e que tem função essencial na formação dos sujeitos. No Brasil, de acordo com o art. 205, da Constituição Federal (CF, 1988), a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família; e, em conformidade com o Inciso I, do art. 208, a educação básica é uma obrigatória e gratuita dos 4 ao 17 anos de idadeReafirmamos, assim, o papel fundamental que a escola tem na experiência formativa de crianças, adolescentes e jovens, independentemente da classe social a que pertencem. Essa perspectiva nos leva a entender a força e a centralidade dessa instituição nas trajetórias dos brasileiros. A partir disso, levantamos alguns questionamentos:

Figura 2: perguntas norteadoras.

Para a resolução de questões tão complexas, precisamos entender, primeiramente, a constituição histórica da escola pública no Brasilcom o intuito de criarmos, desse modo, condições epistemológicas  para construirmos ações que promovam mudanças na dinâmica escolar, buscando mais interação entre os sujeitos que frequentam as escolas públicas.

Não podemos deixar escapar a ideia de que a escola brasileira é fruto de um passado colonial vivido pelo Brasil e que ainda hoje carrega as marcas desse período histórico. É necessário entender que a chegada da instituição escolar no Brasil foi marcada pela imposição de regras sociais que significou a hierarquização de povos tradicionais e, consequentemente, de seus saberes.

O processo de imposição de saberes, dado historicamente pelo colonialismo, e o consequente apagamento de “Outros” (ARROYO, 2012) saberes ocorreu primeiramente com a ação dos jesuítas, reverberando-se, ao longo dos anos, em lógicas de dominação que levaram à produção de um padrão eurocentrado do conhecimento que subalternizou formas de pensamentos ancestrais nativos. Essas lógicas estabeleceram, ao longo do tempo, uma hierarquia de saberes, colocando a epistemologia ocidental, representada pela ciência moderna, no topo dessa hierarquia. Esse processo ocultou e relegou saberes diversos à marginalização social.

O autor Aníbal Quijano (1989) evidenciou que as lógicas impostas pela colonização ainda persistem na atualidade, o que o autor chama de colonialidade, atuante nas dimensões do poder, do ser e do saber.

A partir da perspectiva da colonialidade, e centralizando aqui a colonialidade do saberentendemos que o processo de colonização europeia, para além de subalternizar raças, fez emergir e sedimentar um paradigma como o exemplo moderno de sociedade. Assim, a colonialidade do saber está relacionada às hierarquizações entre as diversas possibilidades de produção do conhecimento existentes no mundo.

Nesse sentido, os saberes que não são legitimados pela defesa da ciência moderna acabam sendo ocultados, subalternizados. A instituição escolar nos mostra como o colonialismo impediu a emergência social de saberes oriundos das culturas tradicionais, em um processo histórico de apagamento desses saberes.

O colonialismo, para além de todas as dominações porque é conhecido, foi também uma dominação epistemológica, uma reflexão extremamente desigual entre saberes que conduziu à supressão de muitas formas de saber próprias dos povos e nações colonizadas, relegando muitos outros saberes para um espaço de subalternidade.


SANTOS, 2010, p. 23

A dominação epistemológica a que Boaventura de Sousa Santos se refere no trecho destacado se estabelece junto à formação do mundo moderno, fruto do colonialismo. Trata-se de um pensamento abissal, que faz por produzir o que é visível e o que é invisível.