UNIDADE 2

Pedagogia de projetos: experiências que modificam tempos e espaços escolares

 

Convidamos os(as) leitores(as) a dar continuidade ao nosso diálogo com as experiências educativas e a pensar em formas mais integradas de desenvolvimento de práticas escolares. Para isso, é importante refletirmos sobre a Pedagogia de Projetos. Essa perspectiva inclui um delineamento de reflexões que permitem a gestores e educadores criarem projetos mais conectados com a realidade social contemporânea.

A Pedagogia de Projetos, nesse sentido, inclui sujeitos diversos na ação educativa, que coletivamente pensam a resolução de problemas, construindo os conhecimentos a partir da busca dessa resolução. Assim, um elemento central para que esse objetivo seja alcançado é a participação de todos os sujeitos na construção do conhecimento. Além disso, essa perspectiva prevê o diálogo dos conteúdos escolares com as demandas reais e contextuais da vida em sociedade. Para Leite (1996), no trabalho escolar com a Pedagogia de Projetos:

Aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos. Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada.


LEITE, 1996, p. 25

Ainda dialogando com a autora, pensar no desenvolvimento de projetos pedagógicos tem como objetivo buscar a resolução de problemas relevantes para os contextos em que esses projetos se desenvolvem. Isso, consequentemente, gera a necessidade de aprendizagem contínua, já que, ao buscar a resolução de problemas, os(as) estudantes, necessariamente, se encontrarão com os conteúdos das diversas disciplinas.

Vamos assistir ao vídeo sobre a Pedagogia de Projetos, explicado pela Professora Clarissa Bezerra?

Fonte: Clarissa Bezerra (2017).

Convidamos os(as) leitores(as) a conhecer o relato da experiência de um professor de Geografia da rede pública de Minas Gerais que atende estudantes oriundos de territórios marcados pela pobreza, embora a escola esteja localizada em um bairro de classe média. Essa experiência é parte de um projeto realizado pelo professor de Geografia sobre a temática desigualdade social na cidade.

Projeto pedagógico - geografia

Foi nesse contexto que, como professor de geografia da escola, busquei explorar o potencial pedagógico do território com os alunos do nono ano do Ensino Fundamental. Estávamos trabalhando o tema da desigualdade social e, após algumas discussões, filmes e aulas expositivas, propus aos alunos realizarmos um debate na praça da Savassi. Cada aluno ficou encarregado de levar sua cadeira, cuidar dela e, após o uso, trazê-la de volta à escola. Assim, percorremos um trecho de, aproximadamente, 1,5 km da escola até a praça levando nossas cadeiras. Na praça, fizemos um círculo e promovemos um debate sobre a desigualdade social. Para a realização desse debate, previamente, cada aluno coloriu uma mandala que lhes foi entregue na aula anterior. Ao colorir a mandala foi-lhe solicitado que construísse um discurso usando as cores, sobre a desigualdade social. Isso foi feito com o objetivo de qualificar os argumentos dos alunos e promover um debate mais objetivo, pois tínhamos um tempo determinado para realizá-lo. Na praça, nossa instalação de círculo novamente trazia a mandala de corpos e cadeiras no espaço público. Realizamos o debate e voltamos à escola num prazo de uma hora. Posteriormente, foi promovido um debate na sala de aula para sistematizar e analisar a experiência vivida.

Essa atividade trabalhou a desigualdade social a partir do uso do próprio território. Corpos periferizados e invisibilizados no espaço elitizado e visibilizado discutindo processos sociais excludentes. Manifestando a contradição social no espaço que os exclui de uma forma positiva, a partir da educação. Importante destacar que, ao levarmos as cadeiras para a praça pública, também deslocamos o território sala de aula para o espaço público, fissurando, dessa forma, a dicotomia escola x sociedade, perfurando os muros visíveis e invisíveis. Ao mesmo tempo, intervimos no cotidiano escolar e urbano usando nossos próprios corpos. Também instabilizamos nosso próprio corpo ao levar um objetivo não cotidiano (a cadeira), criando assim uma experiência com amplas possibilidades de geração de conhecimento. Também ressignificamos a surrada cadeira pedagógica, símbolo da imobilidade, sustentáculo do corpo, que, na situação proposta, deixa de ser somente suporte para o corpo, tornando-se também objeto que provoca o estranhamento e desconforto, estimulando o corpo a buscar novas estratégias relacionais e de significados.

Essa aula também buscou despertar a sensibilidade estética dos alunos, uma vez que, ao andarem com as cadeiras pelas ruas e ao fazermos um círculo em praça pública, estávamos realizando também uma intervenção urbana na cidade.

FERNANDO COSTA - PROFESSOR DE GEOGRAFIA

O(A) leitor(a) conseguiu analisar como o professor trabalhou o conteúdo sobre desigualdade social, visto na disciplina em que leciona, respeitando as concepções da Pedagogia de Projetos? Ao considerar também a cidade como currículo, ele propôs um projeto no qual a participação social dos estudantes em uma praça de Belo Horizonte se transformou em uma experiência educativa carregada de aprendizagens. Isso pois, em um projeto como esse, a circulação de crianças, adolescentes e jovens pelas ruas do bairro, pela cidade, trazem vivências e olhares ressignificados sobre esses espaços.

Fica nítido para o(a) leitor(a) que a experiência consolida-se como um importante projeto que foi desenvolvido a partir de um tema presente na sociedade? Certamente, esse projeto revelou muitas possibilidades de compreensão e aprofundamento das desigualdades sociais, através da participação dos estudantes na atividade desenvolvida e da troca de saberes.

O projeto desenvolvido pelo professor, mesmo que simples e necessitando de poucos recursos materiais, nos evidencia a permanente necessidade de transformação das práticas pedagógicas, o que é imprescindível para a formação de identidades, de valores e de construção da autonomia. Na experiência relatada pelo professor, a partir de uma intervenção urbana na praça, podemos perceber o caráter dialógico não só entre professor e estudantes, mas também entre a escola e a cidade, fazendo valer, assim, uma pedagogia baseada no diálogo e inserida em uma concepção freiriana de educação, para a qual "ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo" (FREIRE, 1987, p. 79).