É importante ressaltar ao(à) leitor(a) que a Pedagogia de Projetos prevê uma concepção globalizante de educação, na qual os problemas locais, contextualizados, são ressignificados pelos estudantes em sua globalidade, num constante diálogo entre as disciplinas curriculares e sua experiência sociocultural. Como vimos no relato do professor, a questão da desigualdade social foi o motivo principal do projeto desenvolvido, que utilizou de contextos locais para reflexão de um problema de nível mundial.
Convidamos o(a) leitor(a) a assistir ao documentário Plantar Saber, que é uma produção da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, para que possamos dialogar com outras experiências escolares que envolvem a Pedagogia de Projetos. Nesse documentário, nos deparamos com a experiência de uma Escola Estadual localizada no estado do Rio Grande do Norte. O projeto se denomina Horta Didática na Escola e envolve a participação dos estudantes de forma lúdica na manutenção da horta escolar desde 2013, a partir da interdisciplinaridade e envolvendo as áreas não só da educação, mas também do meio ambiente, da saúde e das artes.
Fonte: TV Ufersa (2016).
Dessa forma, perguntamos ao(à) leitor(a): o que temos a aprender com esse projeto?
Podemos refletir que esse projeto nos ensina que a escola pode mudar tempos e espaços educativos para a construção do conhecimento. Ao se envolver na construção e manutenção da horta, os estudantes mobilizam conhecimentos de disciplinas distintas, fazendo a conexão entre elas e aprendendo como elas se aplicam em questões práticas da vida cotidiana.
É possível perceber, na experiência em questão, que foram valorizados cinco eixos propostos por Abrantes (1995) para a realização de projetos pedagógicos, ou seja, estes envolveram: intencionalidade, responsabilidade e autonomia, autenticidade, complexidade e resolução de problemas. Para isso, a turma percorreu várias fases.
Nessa forma de ensinar e aprender, não vemos os estudantes passivos, apáticos, diante de informações soltas dadas pelo professor, mas sim, crianças, adolescentes e jovens aprendendo na ação, no diálogo e na troca entre eles e com os professores, com alegria e muita dedicação.
Nessa experiência, os estudantes, ao participarem do projeto, deixam de ser apenas aprendizes do conhecimento e passam a ser sujeitos construtores de conhecimento. Nesse envolvimento, entre o saber teórico e a prática, o estudante, segundo Girotto (2006):
É um ser humano que está desenvolvendo uma atividade complexa e que nesse processo está se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto de conhecimento cultural e se formando como sujeito cultural. Isso significa que é impossível homogeneizar os alunos, é impossível desconsiderar sua história de vida, seus modos de viver, suas experiências culturais, e dar um caráter de neutralidade aos conteúdos, desvinculando-os do contexto sócio-histórico que os gestou.
Convidamos o(a) leitor(a) a se aprofundar na temática da Educação Ambiental, para além da construção de hortas e coletas seletivas.
Nessa perspectiva, podemos refletir que investir no ensino através de projetos garante a concepção globalizante necessária nos processos de ensinar e aprender. Isso porque essa concepção permite aos alunos analisar a realidade a partir de sua intervenção no mundo, agregando e articulando conhecimentos diversos e efetivando uma concepção integradora de educação, um dos objetivos da Pedagogia de Projetos.

Convidamos o(a) leitor(a) a conhecer mais projetos pedagógicos que possam nos inspirar. O documentário Quando sinto que já sei, de Antônio Lovato, Raul Perez e Anderson Lima, exemplifica essa conexão de saberes.
Fonte: Projeto Trajetórias Escolares (2018).
Para acessar ao vídeo completo, acesse o conteúdo.
Através desse documentário, são problematizadas a lógica de funcionamento, a organização e a concepção da escola dita tradicional. Visualizamos ainda experiências educativas de diferentes lugares do Brasil e que representam a diversidade de nossa cultura; experiências estas que rompem com o modelo tradicional de escola e buscam práticas diferenciadas, além de desenvolverem outras formas de educar e se relacionar com o conhecimento.
Podemos refletir também que o sucesso das ações apresentadas no filme se dá principalmente pelo fato de gestores e educadores modificarem os tempos e espaços da escola, em função da realidade dos sujeitos e de características locais dos territórios, valorizando as dimensões da participação, da diversidade e do reconhecimento dos saberes que se produzem em cada território educativo, elementos estruturantes no trabalho com a Pedagogia de Projetos.
Dessa forma, podemos concluir que as experiências presentes no documentário nos revelam que é possível construir uma educação como prática da liberdade, tomando as palavras de Paulo Freire. As práticas evidenciadas abrangem o reconhecimento dos estudantes – criança, adolescente e jovem –, para além dos discursos e dos imaginários sociais que são produzidos sobre eles. Nesses projetos, podemos refletir que o aprender se dá colado às suas próprias narrativas e culturas, na valorização da diversidade, na afirmação do direito à diferença – elementos estes orientadores dos processos pedagógicos desencadeados pelas escolas que tivemos oportunidade de conhecer.