Nesse sentido, o objetivo de trazermos a BNCC neste debate é discutir sobre a necessidade de ressignificá-la localmente, nos diversos contextos escolares, tendo em vista que saberes múltiplos, presentes na imensidão de territórios brasileiros e em cada escola, não foram contemplados por esse documento oficial. Como temos conversado, a propagação de um saber único marginaliza outros saberes, que, para muitos sujeitos, são essenciais em suas dinâmicas de vida. O que propomos, portanto, é o diálogo dos conhecimentos propostos na base, com outros conhecimentos dispostos na multiplicidade de escolas e estudantes brasileiros.

De acordo com a concepção de Currículo Vivo com a qual estamos dialogando, observamos uma experiência em Porto Alegre de escolas que desenvolveram os Laboratórios de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU), no âmbito do Projeto Cidade Escola, com o objetivo de estudar o meio ambiente, aproximando a escola com a comunidade. Na experiência, os estudantes são levados a refletir sobre as questões ambientais a partir do relacionamento estreito com a comunidade e sobre a valorização dos saberes que se dão nessa relação.
Nesse sentido, convidamos os(as) leitores(as) a assistir ao vídeo sobre a atividade de Liau em Morro de São Pedro, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul:
Fonte: Filmes Dolores (2014).
A realização da atividade se deu a partir da necessidade do projeto mudar tempos e espaços educativos, articulando novas metodologias de aprendizagem. Por exemplo, são previstas saídas de campo, produções de materiais informativos pelos estudantes, dentre outras atividades. O projeto se configura, assim, como articulador não só para o aprendizado das questões ambientais, mas também no estreitamento da relação sociedade-natureza. O estudante, então, foi imerso em processos educativos propícios para que ele reflita sobre seu papel enquanto cidadão no mundo e na valorização do seu espaço de vida.
O Projeto Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU) pode ser considerado uma experiência exitosa e é capaz de nos dar importantes pistas para compreendermos a constituição de processos educativos que apontam para a construção de um Currículo Vivo. Isso pois, ao propor espaços de participação dos estudantes fora da escola, cria-se espaços educativos privilegiados para a inserção e aprendizado da cidadania, do ambiente, de valores democráticos, da vida em sociedade.
Nesse sentido, convidamos o leitor e a leitora a refletir sobre o fato de que, quando proporcionamos aos estudantes experiências de participação, estas se transformam em experiências educativas e potentes, pois proporciona-se a criação de espaços onde crianças, adolescentes e jovens podem vivenciar processos de construção de projetos, ações coletivas, pautas políticas para a escola, para o bairro e para a cidade.
Experiências escolares que caminham nesse sentido podem construir conhecimentos repletos de significados e mais que importantes na vida dos sujeitos. É necessário criar espaços que possam romper com o individualismo, a segregação, além de fazer por emergir concepções e práticas que se relacionam à coletividade da vida social.
O Projeto LIAU certamente mobilizou conhecimentos dos currículos oficiais prescritos que, em ação, podem caminhar de forma interdisciplinar, em diálogo com disciplinas como Geografia, História, Biologia, dentre outras. Todavia, outros aprendizados foram também propiciados. Uma criança, um(a) adolescente ou um(a) jovem que é estimulado(a) a tomar decisões, articular pensamentos, expressar opiniões, demonstrar afeto, conviver com as diferenças ou opinar sobre o cotidiano da escola, desenvolve habilidades importantes para a vida em sociedade. Além de conhecer-se e reconhecer-se no tempo e espaço, aprende a conviver com as diferenças, criando condições e disposições para a vida pública.