Podemos refletir que quando elaboramos os exercícios (construídos a cada aula) para debater os três  tipos de violências, estabelecemos um conjunto de regras e/ou desafios por meio da produção de imagens (fotografias ou vídeos), poesias, fábulas, depoimentos, cartas etc. nas quais os alunos são os protagonistas tanto no processo – quando selecionam exemplos e temas abordados – quanto no produto final. Essa metodologia é inspirada no projeto Inventar com a Diferença – cinema, educação e direitos humanos (MIGLIORIN, 2014) que atualmente também é trabalhada em outras escolas brasileiras com projetos parceiros, segundo o site da organização.

  • Sobre a dinâmica dos encontros:

A dinâmica dos encontros consiste, primeiramente, em rodas de conversa em que os(as) alunos(as) debatem sobre experiências e opiniões da temática proposta. Nos primeiros trinta minutos, os estudantes devem refletir sobre tipos de violências. Em seguida, nos próximos vinte minutos, apresentamos as regras para realizar o exercício proposto, com a finalidade de produzir um audiovisual (por meio do celular). Nesse momento, os(as) alunos(as) devem se organizar na distribuição de tarefas, como: definição do enredo; do diretor de cena; dos participantes; da produção de figurino (se houver) etc. E, por fim, os audiovisuais devem ser gravados e assistidos por todos do grupo. Nos encontros, os(as) educandos(as) devem ser realizadores mas, ao mesmo tempo, observadores do espaço e dos colegas de modo diferente. Isso oportuniza momentos de integração e organização entre os estudantes.

  • Sobre a proposta das oficinas: 

A proposta das Oficinas de Experimentação tem como meta criar laços de confiança entre os estudantes participantes e os pesquisadores. A realização de tais exercícios torna-se uma experiência interessante porque os(as) alunos(as) poderão produzir, se (re)conhecer em suas produções e ter contato direto com suas experiências e vivências em relação às violências no mundo, na escola e nas relações interpessoais, produzindo imagens fotográficas ou cinematográficas, conversando sobre a dinâmica de planejamento para a produção dessas imagens, nas rodas de conversa em que os assuntos sobre a violência serão tratados.

  • Sobre a execução do processo: 

Ao executar o processo, bem como produzir um produto final, os(as) discentes refletirão sobre as violências de forma diversificada, com segurança de expressarem seus sentimentos e opiniões. Essa forma de trabalho e recolhimento de dado já foi testada pela professora coordenadora desse projeto e em suas pesquisas apresenta um grande potencial reflexivo, principalmente com assuntos transversais que devem ser discutidos na escola, no nosso caso a questão das violências. Torna-se um canal de comunicação aberto que propicia o diálogo de diferentes ideias de forma bastante participativa e democrática. Como já afirmamos, obter informações ou dialogar com adolescentes e jovens, principalmente quando se trata de expressar opiniões ou posições relacionadas às violências, sempre é um desafio.

Figura 4: título. Fonte: Sônia Vill (2018).

Partimos do pressuposto que com as Oficinas de Experimentação Audiovisual pretendemos fornecer subsídios práticos modificadores da relação do sujeito para com sua própria linguagem, isto é, uma iniciação a uma nova linguagem. Isso significa alterar o modo como percebemos a nós mesmos e aos outros, nas mais diversas situações. Implica nos abrirmos a novas formas de experiência visual e auditiva, pondo em questão o papel social dos veículos de comunicação e aquele que temos exercido nessa trama narrativa da vivência cotidiana.

A Oficina de Experimentação tem como objetivo constituir embasamento para o trabalho com produtos escritos e audiovisuais em espaço escolar. Além da formação de um saber referencial para o desenvolvimento da linguagem escrita e audiovisual entre professores e estudantes, busca constituir um repertório básico para a discussão crítica e sensível sobre a produção e difusão audiovisual e seu papel na constituição de saberes e discursos sobre o universo das relações contemporâneas.

Dessa forma, convidamos os(as) leitores(as) a conhecer os quatro objetivos específicos da Oficina de Experimentação.

1. Possibilitar oficinas práticas: atuação e experimentação com o audiovisual na escola.

 2. Fomentar formas de linguagem e expressões constituintes do audiovisual: partir do contexto escolar e se reinventar em modos artísticos.

3. Revitalizar e ampliar o acesso a filmes de curta e longa duração, pelas unidades escolares e comunidade por meio de conhecimento e utilização de plataformas que disponibilizam material para exibição gratuita.

4. Explorar de modo crítico novas linguagens, tais como estruturas gamificadas, vídeos para internet, redes sociais, aplicativos para dispositivos móveis e experimentação audiovisual com tecnologias digitais na escola e em seu conjunto de relações sociais e pedagógicas.

A partir dos objetivos específicos, os recursos pedagógicos e tecnológicos selecionados devem levar em consideração a estrutura e os recursos da escola pública, como: a sala de aula e o material didático produzido pela equipe como videoaulas, projetor multimídia, caixas de som e a fonte de reprodução (computador).

Sobre a produção do material pedagógico seguimos as seguintes etapas.

1. Produções escritas (textos) e em formato audiovisual disponíveis em sites de livre circulação, como por exemplo: Inventar com a Diferença; Rede Kino e Cinead.

 2. Material fotográfico e audiovisual de livre circulação.

3. Produção de vídeoaulas originais com a finalidade didática para complementar conhecimentos referentes às Oficinas de Experimentações.

4. Produção de tutoriais audiovisuais para uso das ferramentas digitais de publicação e compartilhamento dos conteúdos produzidos pelos(as) estudantes.

5. Criação de conteúdos interativos que explanam os temas abordados nos encontros presenciais das oficinas e, também, na Plataforma Moodle a distância.

Dessa forma podemos compreender que os exercícios aplicados nas Oficinas de Experimentação Audiovisual funcionam como jogos cujos conjunto de regras deve desestabilizar o conhecimento prévio do estudante sobre a produção audiovisual ou escrita por meio da supressão ou imposição de mecanismos técnicos específicos. Esse desvio da formatação habitual no manejo da câmera mobiliza o sujeito a buscar novas formas de expressar a ideia por ele concebida ou intencionada.

O desenvolvimento da Oficina de Experimentação, bem como as imagens produzidas nelas, trazem uma série de instrumentos de atuação junto à comunidade escolar sob o princípio central do desenvolvimento das relações permeadas pelas violências, com base na alteração dos modos de percepção de si e desenvolvimento da alteridade.

Podemos perceber que, ao atuar no espaço escolar e na busca de temáticas a serem desenvolvidas com os recursos audiovisuais, o sujeito pode perceber as diferentes perspectivas que estabelece sobre esse espaço e ampliar suas formas de entendimento sobre elas. Isso equivale a buscar alternativas de ação, a inventar outros mundos, a forjar novas formas de agir. Nesse sentido, a ação de representar por meio de recursos audiovisuais torna-se uma reflexão da vítima sobre a realidade; isso significa que o estudante não vai dizer apenas o que sente, ou interpretar o que vivencia, mas ele pode ampliar sua maneira de interpretar situações que sofre e, como consequência, não abandonar a escola, não se sentir excluído do processo. Essa mudança da situação vigente condiz com uma proposta de política pública, pois traz em si uma concepção.

Nesse texto, temos a pretensão de associar o pensamento sobre a educação ao cenário de modificações culturais ao qual estamos integrados. Para isso, pensemos que os recursos audiovisuais não são nenhuma novidade e que, na verdade, estamos tratando de agentes educacionais já integrados e estabelecidos nas vivências das pessoas. A consolidação dos veículos midiáticos, com a aceleração do fluxo de informações, gerou um novo contexto de relações pessoais, de produção material e de conhecimento. Nessa conjuntura, nos cabe pensar relações pedagógicas que não partam da ideia de que o(a) estudante seja vazio(a) com relação às experiências audiovisuais e passível de ser preenchido por um conhecimento novo.