Estratégias pedagógicas: quais são as possíveis soluções para o trabalho infantil?


…E se as crianças não estiverem trabalhando, onde estarão?
Conforme evidenciado ao longo do texto, por vezes a situação empobrecida de uma fração da classe trabalhadora não coloca outra possibilidade além da utilização da força de trabalho de crianças, adolescentes e jovens para a sobrevivência de toda a família. Para além disso, o trabalho infantil também é visto na sociedade com viés moralizante: como meio de aprendizado e formação de qualidades virtuosas. Transfigurado na forma da ajuda, conforme ressalta Conde (2016), populariza-se o discurso de que é melhor a criança trabalhar do que vagabundear pelas ruas ou adentrar o universo do crime. Dessa forma, a existência do trabalho precoce não é denunciada e sim legitimada por quem o observa.
A questão, no entanto, não pode ser resumida nesses dois extremos degradantes para as crianças, os(as) adolescentes e os(as) jovens: ou ser explorados(as) no trabalho desde muito cedo; ou relegados(as) ao mundo marginalizante do crime.
Como vimos, a infância é tempo privilegiado para o desenvolvimento de funções psicológicas superiores e para a aquisição do repertório cultural humano. Isso se potencializa quando a criança é ocupada em experiências diversificadas que envolvem a produção histórico-social em diversas áreas – arte, ciência, esporte, literatura. Mas, ao analisarmos nossa sociedade, percebemos que este tipo de experiência de infância é vivenciada, majoritariamente, por aqueles que são mais privilegiados economicamente, culturalmente e socialmente. Para essas crianças, adolescentes e jovens que se encontram nestes contextos, o trabalho não é uma necessidade de sobrevivência, por isso, ele assume outros sentidos, apresentando-se como algo enobrecedor, virtuoso e bom.
Parafraseando Conde (2016), uma criança é apenas uma criança e, apenas sob determinadas relações, torna-se trabalhadora. O trabalho, nessa sociedade, aparece de modo explorador, separado entre o intelectual e o material, entre a cidade e o campo, entre a força de trabalho explorada e a folga que resulta de exploração, marcando um radical antagonismo entre classes (VIGOSTKI, [1930] 2004).
Por serem formados no interior dessas relações contraditórias e antagônicas, os seres humanos também compõem-se separadamente. Revela-se, assim, o plano de fundo do problema social do trabalho infantil: a condição de classe. Enquanto uma classe precisa trabalhar – muitas vezes desde a infância – a fim de garantir a própria sobrevivência a duras penas, outra vive confortavelmente da exploração do trabalho alheio.
Nesse sentido, propomos, como resposta à questão lançada no título desta sessão, que é preciso construir alternativas para a infância dessa fração da classe trabalhadora, de forma que o trabalho e a marginalidade não se apresentem mais como as únicas opções. Quando as crianças, adolescentes e jovens não precisarem mais ser postas precocemente no trabalho, elas estarão brincando, estudando, aprendendo idiomas, desenhando. Estarão vivendo sua infância.
Na educação infantil
Histórias para gerar roda de conversa na Educação Infantil:
- A pequena vendedora de fósforos
- Serafina: a menina que trabalha.
Nos anos iniciais do ensino fundamental
Trabalhar com manchetes de jornais.
Nos anos finais do ensino fundamental
Assistir documentários e/ou filmes sobre o tema, como o exemplo abaixo:
- Não é brinquedo: documentário sobre o trabalho infantil em Santa Catarina.
- Filme Daens: um grito de justiça!
Também é possível trabalhar com dados estatísticos sobre o trabalho infantil, cercando a problemática com dados da realidade.
No Ensino Médio
Entrevista com a própria família sobre o que pensam acerca do trabalho infantil. Desenvolver um debate crítico sobre o que as famílias entendem pelo tema, produzir textos, vídeos…
Além das proposições pedagógicas para se abordar o tema do trabalho infantil com crianças, adolescentes e jovens, dada a situação desigual da sociedade brasileira e os dados alarmantes sobre o problema, é preciso reconhecer quem se encontra em situação de trabalho infantil.
Isso quer dizer que, em primeiro lugar, é necessário observar crianças, adolescentes e jovens cansadas e sem tempo de fazer as tarefas em casa. É preciso ir além das aparências imediatas e perceber/conhecer os motivos do cansaço e da falta de tempo dessas crianças, adolescentes e jovens para estudar.
Por trás das aparências, podemos encontrar situações de violação de direitos, onde se destaca o trabalho infantil. Pela experiência que obtivemos em outros espaços, observamos que a criança, o(a) adolescente e o(a) jovem que trabalham necessitam utilizar do tempo em que estão na escola para estudar.
Nesse sentido, é preciso pensar estratégias pedagógicas para que a criança e/ou adolescente realizem exercícios, pesquisas, estudos e tarefas durante o tempo em que estão na escola. Ignorar essa realidade e tratar a criança ou adolescente trabalhador como da mesma forma que outra criança/adolescente significa ignorar a realidade objetiva e material em que vivem e contribuir para que o abandono, a evasão e a repetência se acentuem.