UNIDADE 1

A cultura do uso de drogas. Mas o que são drogas?

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga “é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento”. Podemos perceber que não são as consequências que o uso das drogas pode causar no organismo que definem o que é droga, mas sim a utilidade dada a ela. Outro fator importante é o tipo de uso, ou seja, a relação que o usuário desenvolve com a droga. Qualquer tipo de substância usada com a finalidade de atuar no organismo pode ser considerada uma droga, inclusive medicamentos, açúcar, café etc. Drogas não são apenas aquilo que é vendido por traficantes, elas também são vendidas em farmácias, padarias, bancas de jornal e supermercados.

Figura 3: a presença de distintas drogas no contexto da criança, legais e ilegais. Elaboração: LANTEC-UFSC (2018).

Pensar a questão das drogas exige que nós nos livremos da ideia que temos sobre elas até agora. É preciso evitar a visão que divide as coisas do mundo entre boas e ruins. Droga não é boa nem ruim por si só, depende do tipo de droga, do contexto de uso, do usuário, de sua própria história, da relação com a família etc., ou seja, depende da trajetória do usuário. É muito importante considerarmos também que o efeito do uso da droga varia de uma pessoa para outra, ou seja, um mesmo tipo de droga pode produzir efeitos diferentes em pessoas diferentes. E os fatores que influenciam esses resultados variam muito e são imprevisíveis.

Figura 4: reflexões sobre o uso de drogas. 

As drogas, sejam elas legais ou ilegais, estão disponíveis e acessíveis na sociedade. Já nascemos em um mundo em que o uso de drogas é uma realidade, e, por vezes, muito mais próxima do que imaginamos. Assim, precisamos auxiliar as crianças, adolescentes e jovens para que tenham mais autonomia e façam escolhas saudáveis. Que se sintam bem e que, com isso, possam ser capazes de evitar as últimas consequências: o uso problemático, o abandono da escola, o envolvimento com o tráfico, a violência, a prisão e a morte.

Do ponto de vista legal, as drogas se dividem em lícitas e ilícitas, ou seja, legais e ilegais. As drogas lícitas podem ser comercializadas livremente, embora algumas sejam submetidas a certas restrições, como bebidas alcoólicas e tabaco, que não podem ser comercializados para crianças, adolescentes e jovens. As drogas ilícitas, por sua vez, são proibidas por lei. Mas, como sabemos, a proibição e a criminalização não impedem que o consumo aconteça. Por esse motivo, a relação que se dá entre o consumidor e as drogas ilícitas normalmente é envolvida de ilegalidade, independentemente do tipo ou quantidade, estando o consumidor sujeito tanto à violência do Estado quanto à do tráfico.

Segundo Berlote (2004):

Drogas lícitas são aquelas cuja produção e consumo não constituem crime. O álcool, o tabaco e a cafeína são as mais consumidas e de uso praticamente universal. Seu uso é estimulado, e elas estão intimamente associadas aos maiores problemas de saúde pública, não somente em nosso país.
As drogas ilícitas são aquelas cuja produção, comercialização e uso são considerados crimes, sendo proibidos por leis específicas. As drogas ilícitas [...] podem ser classificadas em naturais, semissintéticas e sintéticas. 


BERLOTE, 2004, p. 61

Não parece, no mínimo, incomum um país estimular a venda de drogas lícitas, por meio de propagandas e merchandising nas telenovelas, atribuindo toda carga negativa apenas às drogas ilícitas, uma vez que o uso prejudicial de ambas é semelhante? Vamos tentar entender as razões históricas e políticas desse fenômeno?