Considerações
Nessa trajetória rumo à compreensão e superação dos motivos de baixa frequência escolar, é possível afirmar que temos algumas pistas possíveis para os profissionais de educação atuarem objetivando a transformação do espaço/tempo escolar.
Para compreendermos os limites e possibilidades da Política de Atenção Integral à saúde da criança e do adolescente no território educativo, discutimos a amplitude do conceito de saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Entendida como um bem de todos, um valor coletivo e um meio para tentar garantir a dignidade humana, foi possível reconhecer a importância da escola nessa construção, na medida em que esclarece determinadas questões e se lança destemidamente em direção à construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Nesse sentido, a educação deve estar atenta para não acolher diagnósticos frágeis em saúde, como os de dislexia, hiperatividade, depressão etc., sem antes refletir sobre outras condições que compõem o ambiente onde esse sujeito se encontra, sob o risco de patologizar os processos de ensino e de aprendizagem e acabar por reproduzir os estigmas que culpabilizam os estudantes pelas dificuldades de aprendizagem. O mesmo vale para o estresse crônico de professores.
Vimos que a Educação Integral, a Segurança Alimentar e Nutricional, as atividades físicas e esportivas, a Educação Ambiental e a arte e cultura se constituem em caminhos possíveis e estratégicos para promoção e garantia de direitos.
Assim, os motivos de baixa frequência escolar dos estudantes do Programa Bolsa Família relacionados a essas temáticas serviram como combustível para toda a nossa discussão. É importante ressaltar mais uma vez que queremos chamar a atenção do educador a todo momento para o fato de ser importante ao mesmo tempo assumir, mas também compartilhar as responsabilidade de cada um e de todos. Assim, buscamos construir uma sociedade mais ética, crítica, solidária e menos desigual.
“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”
Estratégias Pedagógicas
Para toda a escola
Rodas de conversas
1º Momento: considerando a produção do vídeo apresentada pelo SBT em 2011 pelo programa Conexão Repórter, propõe-se que seja realizada uma roda de conversa com o grupo sobre o sofrimento gerado pelo fato de alguém em situação extremamente pobre estar privado não apenas de bens materiais, mas também de direitos.
Para refletir: que dor é essa? Como a escola promove espaço para vivência e compreensão da pobreza, sendo essas temáticas tão ausentes dos currículos escolares e do material didático? Quais são as formas de produção da pobreza e como isso afeta cada aluno beneficiário do Programa Bolsa Família dentro da escola? Sugerimos aqui que você explore nosso outros materiais, que tratam de outros aspectos desse mesmo fenômeno.
2º Momento: partindo do fato de que toda escola pública é democrática, e considerando que todo processo democrático implica na participação e representatividade de todos, é importante identificar as ações praticadas na escola que caracterizam uma vivência democrática de valorização das diversidades de compreensão da produção da pobreza, de diminuição das desigualdades e, por outro lado, ações que caracterizam vivências que reproduzem discursos autoritários e corroboram com o sofrimento psíquico de muitos alunos.
3º Momento: considerando as estratégias emancipatórias, como a cultura, o esporte, a arte e a sustentabilidade ambiental na escola, propõe-se que se definam coletivamente ações capazes de auxiliar na construção dos sentidos da educação. Esses sentidos devem também estar vinculados à questão da saúde, buscando a valorização da diversidade e da saúde mental e a superação do sofrimento no território escolar por meio da valorização da autoestima, das potencialidades individuais e coletivas e do engajamento em um projeto da escola.
Para o estudante
Socializando
Propor aos estudantes atividades que auxiliem o relacionamento com o coletivo e consigo mesmo, mostrando que é muito importante saber se trabalhar coletivamente, mas que também é possível fazer sozinho. Destacam-se os seguintes processos: autoconhecimento e autocuidado, consciência social e ambiental, tomadas de decisão responsável, habilidades de relacionamento e autocontrole.
Para os profissionais da educação
Se libertando das amarras
Partindo da premissa de que os currículos não contemplam o entendimento da produção da pobreza como uma produção social, quais vivências/ações do educador podem ser identificadas como resultado da culpabilização do aluno e de sua família pela pobreza? É possível identificar sofrimento em algum estudante relacionado a comportamentos de professores ou colegas? Não podemos nos esquecer que essa produção de desigualdade é também econômica, política e cultural, e não questiona a padronização da vida que produz uma normatividade que não pode ser alcançada pela grande maioria da população, especialmente da que se encontra em situação de vulnerabilidade.
A seguir, mais algumas questões para reflexão:
1. Entender a pobreza como produção histórica de injustiças sociais no Brasil. Superar a falsa ideia que culpabiliza o pobre por sua situação. Olhar para cada aluno com dignidade. O que é ser pobre para você?
2. Os estudantes pobres também são sujeitos do conhecimento. Respeitar os seus conhecimentos prévios é condição para diminuir sofrimento e criar um campo fértil para saúde mental na escola, tornando esse um ambiente mais acolhedor e confortável ao mesmo tempo. Você, de fato, considera os saberes prévios trazidos pelos estudantes em situação de pobreza?
Promover atividades que oportunizem o desenvolvimento de habilidades não apenas intelectuais, mas também emocionais e sociais, visando atuar sobre o desenvolvimento integral do estudante. Você intermedia conflitos na escola? Ou finge que não os viu? Admite a piada e os apelidos? Ou os toma como oportunidade de diálogo sobre a injúria em questão? Qual foi a sua história no período escolar?