UNIDADE 2

As doenças negligenciadas no Brasil

 

As doenças negligenciadas no Brasil são doenças que nos causam muita dor. Dor, sobretudo, social, por sabermos que estão, grosso modo, circunscritas à população que vive em precárias condições de saúde. Negligenciadas são as doenças, negligenciadas são as pessoas expostas a essas doenças. Quando falamos sobre “doenças negligenciadas” estamos nos referindo a um conjunto de doenças, em sua maior parte transmissíveis, que aparecem com maior frequência em lugares de maior vulnerabilidade social, com menos infraestrutura e acesso a direitos básicos, como saneamento básico e acesso a serviços de saúde. Alguns exemplos dessas doenças negligenciadas são leishmanioses, doença de chagas, tracoma, hanseníase, dengue e malária. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), essas doenças apresentam maior ocorrência nos países em desenvolvimento, e as mais negligenciadas são exclusivas desses países (MOREL, 2006). O HIV/AIDS, a malária e a tuberculose são responsáveis por cerca de 5,6 milhões de mortes em todo o mundo a cada ano (OMS, 2008).

O maior problema que envolve a questão das doenças negligenciadas é o fato de que, em geral, elas atingem os mais pobres entre os pobres, porque é nessas condições que os vírus e os hospedeiros melhor se reproduzem e têm mais contato com as pessoas. Além disso, esse recorte de classe não favorece o acesso a medicamentos, pois, quanto menor a capacidade aquisitiva, mais difícil é comprá-los. Em determinadas situações, além da falta de dinheiro, há também a dificuldade ou inexistência de acesso ao SUS nessas localidades de extrema pobreza.

Em meio a essa discussão, não podemos deixar de lembrar de outro grande problema histórico que o Brasil tem enfrentado, com grandes avanços nos últimos anos, diga-se de passagem. Uma pesquisa nos mostra que a taxa de mortalidade na infância no Brasil sofreu redução de cerca de 67% entre os anos de 1990 e 2015, sendo que a região Nordeste foi a que mais conseguiu combater essa triste realidade (FRANÇA et al., 2017). A mortalidade infantil refere-se ao número de óbitos de crianças menores de 5 anos de idade. Ainda segundo essa mesma pesquisa, a maior parte dos óbitos ocorrem no primeiro ano de vida, especialmente nos primeiros meses.

Doenças diarreicas e desnutrição

O termo “doenças diarreicas” faz referência a um conjunto variado de doenças que são provocadas por bactérias, vírus e parasitas e que provocam o aumento da quantidade e da frequência de evacuações e, ao mesmo tempo, a diminuição da consistência física das fezes. Essas doenças podem levar à morte por desidratação e infecções. Os ambientes que estão mais sujeitos à proliferação dessas doenças diarreicas são lugares em que não há água em boa qualidade e quantidade. Além disso, aspectos como má alimentação, falta de higiene pessoal e de saneamento básico estão diretamente relacionados a esse problema, sobretudo pelo fato de que a transmissão desses agentes infecciosos se dá pela água.

Outro problema relacionado a essas condições de pobreza, extrema pobreza e falta de infra-estrutura e atendimento básicos de qualidade é a desnutrição, um imenso problema histórico que deixou marcas profundas na história do Brasil, sobretudo dos anos 1960 até metade dos anos 1980. A partir desta década, o problema começa a receber a atenção devida e se torna alvo de políticas públicas que visam combater a fome no Brasil e, consequentemente, a desnutrição, sobretudo a desnutrição durante a infância, que gera maiores vítimas de morte.

Em 2015, as doenças diarreicas e a desnutrição foram registradas, respectivamente, como a 7ª e 9ª causas mais registradas de óbito infantil, somando 2.699 registros para os dois motivos (FRANÇA et al., 2017). A principal forma de combater a contaminação por doenças diarreicas está relacionada à oferta de água de boa qualidade. Contudo, aí reside um grande problema, pois a oferta e disponibilidade de água e saneamento básico muitas vezes são questões que fogem do alcance das famílias e comunidades, pois são dever do Estado.

Podemos afirmar algo semelhante em relação à desnutrição, mas com mais atenção aos programas de transferência de renda, como o PBF, que também está voltado à garantia de direitos nas áreas da Educação, Saúde e Assistência Social. A importância desse complemento de renda na vida alimentar dessas famílias é indispensável para combater a subnutrição e permitir escolhas mais saudáveis.

Tuberculose e HIV/AIDS

Como dissemos anteriormente, a tuberculose é uma das doenças negligenciadas que mais afeta a população em situação de pobreza e extrema  pobreza no Brasil. Em 2015, foram registrados cerca de 68 mil novos casos (BRASIL, 2016). Assim como o resfriado, a tuberculose é transmitida pelas vias aéreas e pode ser adquirida através da fala, de espirros, tosse e expectoração. É comum durante o tratamento que os pacientes abandonem o tratamento medicamentoso logo após o desaparecimento dos sintomas, acreditando que estão curados, quando, na verdade, ainda estão infectados e podem transmitir a doença para mais pessoas. Por isso, é extremamente importante levar o tratamento até o final.

Fonte: Brasil (2012).

Uma das características da tuberculose no Brasil é sua concentração nas grandes cidades. Outra característica dessa doença é a coinfecção de tuberculose e HIV/AIDS, ou seja, é relativamente comum haver infecção conjunta entre essas duas doenças; nosso país ocupa a 19ª posição no número de casos dessa combinação de doenças  (BRASIL, 2016). Nos dias de hoje, a região com maior número de casos de tuberculose é a Norte, seguida por Sudeste, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. Embora crianças e adolescentes estejam entre os grupos menos afetados pela tuberculose, existe a tuberculose meningoencefálica, também conhecida como meningite tuberculosa, que ataca principalmente crianças de 0 a 4 anos.

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2016) a população que se autodeclara negra ou parda é a mais afetada pela tuberculose, sendo representada por 62,8% dos casos entre 2001 e 2015. Contudo, a incidência de infecção na população indígena é muito maior, ou seja, é extremamente comum encontrar casos de tuberculose em comunidades indígenas. Ao mesmo tempo que o número de infecções vem caindo no país como um todo, a taxa de incidência de tuberculose na população indígena se mantém mais ou menos estável.

Figura 2: gráfico comparando as taxas de incidência de tuberculose na população geral do Brasil e da população indígena.

O principal sintoma da tuberculose é a tosse, mas a doença pode vir acompanhada também de febre, sudorese, emagrecimento e cansaço excessivo. A forma mais segura de prevenir a tuberculose em crianças é através da vacina BCG, que também protege contra a meningite e a tuberculose miliar. Outra dica importante é manter ambientes arejados, bem ventilados e com entrada de luz solar. Caso você ou outra pessoa tenham tido contato com alguém infectado, é indispensável procurar atendimento médico, pois o diagnóstico precoce ajuda no combate à transmissão da tuberculose. Para saber mais sobre o assunto, você pode acessar algumas páginas.

A tuberculose continua sendo a principal causa de óbito entre pessoas infectadas com o HIV/AIDS no mundo, sendo responsável por um a cada três casos de óbitos entre essa população (UNAIDS, 2017). Existem várias formas de se contrair o vírus do HIV/AIDS, como, por exemplo, através de transfusões de sangue e materiais cortantes, mas principalmente através de relações sexuais, gravidez e amamentação, a chamada transmissão vertical. Só esses motivos são suficientes para nos mostrar como a Educação Sexual é importante nas escolas, sobretudo quando vemos um crescimento na população feminina jovem contaminada pelo vírus do HIV/AIDS (SILVA et al., 2018). Sobre essa temática, convidamos o leitor a conhecer a Rede Cegonha.