UNIDADE 1

Vamos refletir sobre o conceito de saúde?

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde significa “um completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Essa definição é resultado de um esforço de cooperação entre diversos países nos anos após a II Guerra Mundial. Naquele momento, era preciso reconstruir os territórios, recuperar o conceito de paz e garantir às pessoas uma vida plena de sentidos ou dos sentidos que lhes foram tirados violentamente pela guerra e, para tanto, esse deveria ser um esforço de várias áreas: saúde, educação, segurança etc. Assim, esse conceito não deve ser tomado como algo impossível de ser alcançado, mas sim como um instrumento legal para cobrar políticas públicas voltadas para as áreas da educação, saúde, assistência social e segurança. Bem-estar físico, mental e social são palavras que não podem ser esquecidas, pois elas nos levarão a pensar sobre saúde na escola.

Em que medida a escola faz bem à saúde, no sentido de ajudar os sujeitos a desenvolverem a autonomia necessária para que possam tomar decisões mais saudáveis, estimulando práticas que possam melhorar a sua saúde e a dos membros da sua comunidade? Se pensarmos no caso do menino que deixou a escola para cuidar do pai,  podemos afirmar que ele estaria mais saudável se estivesse na escola do que em casa, sendo responsável pela saúde de seu pai? Ou, por outro lado, quanto de sofrimento a vida escolar pode causar a um sujeito em desenvolvimento, tendo em vista que, na escola, os estudantes são constantemente comparados e avaliados, o que pode gerar muita competitividade, exclusão e constrangimento dos que não conseguem acompanhar seus colegas?

Situações cotidianas de sofrimento podem afetar o desenvolvimento e a aprendizagem e impactar na repetência, abandono e evasão escolar. Para que possamos compreender como crianças, adolescentes e jovens estabelecem relações e vínculos com cada um e com si próprio na escola, é preciso compreendermos o conceito de saúde. Afinal, esse conceito determina o que é saudável e, nesse sentido, quem é saudável e por quê.

Mais uma vez: saúde é “um completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Devemos dedicar um pouco da nossa atenção à questão social nesse momento, pois além de pensarmos em promover a saúde para pessoas, devemos pensar também em promover saúde em espaços, por meio de ações saudáveis. O que seria um estado de bem-estar social? Por ser “social” essa ideia fala de um estado de bem-estar do coletivo, de várias pessoas, ou seja, da comunidade. E aqui vale a pena pensar nos territórios marcados pela violência, pela pobreza e pela extrema pobreza, onde muitos dos(das) beneficiários(as) do Programa Bolsa Família (PBF) residem. Vale lembrar que o PBF é um programa que não se limita à transferência de renda condicionadas, mas também esta voltada à garantia de direitos nas áreas da Educação, Saúde e Assistência Social. Você acha que podemos considerar esses lugares como saudáveis? Quais são as dificuldades que essa extrema pobreza e violência causam nesses sujeitos e de que forma isso afeta a possibilidade de um estado de bem-estar físico, mental e social, ou seja, saudável?

Fonte: Projeto Trajetórias Escolares (2018). 

Logo, se estado de bem-estar social é condição de saúde, e isso diz respeito ao coletivo, à comunidade, ao pátio da escola, precisamos discutir também, mesmo que brevemente, sobre a produção social da doença ou sobre o que se chama de sociedade medicalizada.

“Viver todos os dias cansa”, como diz o poeta português Pedro Paixão. Por quê? Cansa porque muitas crianças, adolescentes e jovens precisam enfrentar obstáculos como preconceitos e discriminações todos os dias, obstáculos que também estão presentes dentro das escolas e salas de aula. Cansa porque dói o estômago com fome; cansa porque é preciso andar quilômetros para chegar à escola; cansa porque o corpo cheio de energia é obrigado a ficar sentado por horas; cansa a boca silenciada, a rotina perigosa, o desafeto, a invisibilidade e, principalmente, cansa sempre fracassar em tentar mudar a realidade.

O que esse cansaço tem a ver com saúde? Por que estamos falando dessas dificuldades cotidianas se nos propomos a falar sobre saúde? Porque esse cansaço é vivido todos os dias por milhares de pessoas, às vezes durante gerações seguidas, e esse cansaço pode levar ao adoecimento, não apenas do corpo mas também ao adoecimento do psicológico, que é tão importante quanto o corpo.

Tornar o ambiente escolar e a vida desses estudantes mais saudáveis exige atenção e cuidado com nós mesmos e com os outros. É este o desafio da educação quando assume o papel de tentar assegurar os direitos de crianças, adolescentes e jovens: garantir que as escolas acolham a diversidade e a criatividade e não perpetuem nem admitam a prática de violações de direitos. Vamos compreender a dinâmica do território escolar a partir do conceito de saúde e as relações de poder que se estabelecem nesse espaço.